8.10.07

Canções do mundo acabado

Meus olhos andam sem sono
Somente por te avistarem
de uma tão grande distância

De altos mastros ainda rondo
tua lembrança nos ares
O resto é sem importãncia

Certamente não há nada
de tí, sobre este horizonte
desde que ficaste ausente

Mas é isso que me mata
Sentir que estás não sei onde
mas sempre na minha frente

Não acredites em tudo que disser a minha boca
sempre que te fale ou cante

Quando não parece, é muito
quando é muito, é muito pouco
e depois nunca é bastante

Foste o mundo sem ternura
em cujas praias morreram
meus desejos de ser tua

Água salgada me escuta
e mistura nas areias
meu pranto e o pranto da lua,

A mim não fizeste rir
e nunca viste chorar

Por que o tempo sempre foi
longo pra me esqueceres
e curto pra te amar...

[Canções do mundo acabado, Cecília Meireles]

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