Leve é o pássaro: e a sua sombra voante, mais leve.
E a cascata aérea de sua garganta, mais leve.
E o que lembra, ouvindo-se deslizar seu canto, mais leve.
E o desejo rápido desse mais antigo instante, mais leve.
E a fuga invisível do amargo passante, mais leve.
[Cecília Meireles]
27.3.08
É sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio de ar.
[Chico Buarque]
26.3.08
Os anos ensinam muito do que os dias nunca saberão.
[Essays, Ralph Waldo Emerson]
25.3.08
A timidez é uma condição ao coração, uma categoria, uma dimensão que desemboca na solidão.
[Pablo Neruda]
24.3.08
De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos homens, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.
[Rui Barbosa]
22.3.08
A mais poderosa arma de sedução é o silêncio Ponha suas intenções à mostra, mas não fale nada. Cale.
[Dorival Caymmi]
21.3.08
- Você poderia me dizer, por favor, por qual caminho devo seguir agora? Perguntou ela. - Isso depende de onde você quer ir. Respondeu o gato.
O segredo está no amor, é evidente, mas também em sabermos afastar do nosso convívio o que não presta. Só quem se libertou do medíocre e do vazio poderá ser feliz.
As muito feias que me perdoem mas beleza é fundamental. É preciso que haja qualquer coisa de flor em tudo isso qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute couture em tudo isso (ou então que a mulher se socialize elegantemente em azul, como a República Popular Chinesa) não há meio termo possível. É preciso que tudo isso seja belo. É preciso que súbito tenha-se a impressão de ver uma garça apenas pousada e que um rosto adquira de vez em quando essa cor só encontrável no terceiro minuto da aurora. É preciso que tudo isso seja sem ser, mas que se reflita e desabroche no olhar dos homens. É preciso que umas pálpebras cerradas lembrem um verso de Éluard e que se acaricie nuns braços alguma coisa além da carne: que se os toque como no âmbar de uma tarde. Ah, deixai-me dizer-vos que é preciso que a mulher que está ali como a corola ante o pássaro seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então, nem se fala, que olhem com certa maldade inocente. Uma boca fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência. É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas no enlaçar de uma cintura semovente gravíssimo é porem o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras é como um rio sem pontes. Indispensável que haja uma hipótese de barriguinha, e em seguida a mulher se alteie em cálice, e que seus seios seja uma expressão greco-romana, mais que gótica ou barroca e possam iluminar o escuro com, uma capacidade mínima de cinco velas. Sobremodo pertinaz é estarem à caveira e a coluna vertebral levemente à mostra; e que exista um grande latifúndio dorsal! Os membros que terminem como hastes, mas bem hajam um certo volume de coxas e que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem no entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!). Preferíveis sem duvida os pescoços longos de forma que a cabeça dê por vezes a impressão de nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos discretos. A pele dever ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso e na face mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior a 37º centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras do primeiro grau. Olhos, que sejam de preferência grandes e de rotação pelo menos tão lenta quanto a da terra, e que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em principio alta ou, baixa, que tenha atitude mental dos altos pícaros. Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se se fechar os olhos ao abri-los ela não mais estará presente com seu sorriso e suas tramas. Que ela surja, não venha; parta, não vá. E que possua certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber o fel da dúvida. Oh, sobretudo que ela não perca nunca, não importa em que mundo não importa em que circunstancias, a sua infinita volubilidade de pássaro; e que acaricia no fundo de si mesma transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre o impossível perfume; e deleite sempre o embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina do efêmero; e em sua incalculável imperfeição constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação miserável.
[Receita de mulher, Vinícius de Moraes]
7.3.08
Tarado é toda pessoa normal pega em flagrante.
[Nelson Rodrigues]
6.3.08
É preciso sofrer depois de ter sofrido, e amar, e mais amar, depois de ter amado.
Tem os que passam e tudo se passa com passos já passados Tem os que partem da pedra ao vidro deixam tudo partido E tem, ainda bem, os que deixam a vaga impressão de ter ficado.